Esteatose hepática é um distúrbio que se caracteriza pelo acúmulo de gordura no interior dos hepatócitos (células do fígado) – órgão situado no lado direito do abdômen por onde circula grande quantidade de sangue. De coloração marrom-avermelhada, o fígado exerce mais de 500 funções fundamentais para o organismo.
O aumento de gordura dentro dos hepatócitos, constante e por tempo prolongado, pode provocar uma inflamação capaz de evoluir para quadros graves de hepatite gordurosa, cirrose hepática e até câncer. Nesses casos, o fígado não só aumenta de tamanho, como adquire um aspecto amarelado.
Também conhecida por doença hepática gordurosa, gordura no fígado ou fígado gorduroso, a esteatose hepática é uma condição cada dia mais comum, que pode manifestar-se também na infância e atinge mais as mulheres. A estimativa é que 30% da população apresentem o problema e que aproximadamente metade dos portadores possa evoluir para formas mais graves da doença.
Causas:
As esteatoses hepáticas podem ser classificadas em alcoólicas (provocadas pelo consumo excessivo de álcool) e não alcoólicas.
Sobrepeso, diabetes, má nutrição, perda brusca de peso, gravidez, cirurgias e sedentarismo são fatores de risco para o aparecimento da esteatose hepática gordurosa não alcoólica. Há evidências de que a síndrome metabólica (pressão alta, resistência à insulina, níveis elevados de colesterol e triglicérides) e a obesidade abdominal estão diretamente associadas ao excesso de células gordurosas no fígado.
Num número bem menor de casos, pessoas magras, abstêmias, sem alterações de colesterol e glicemia, podem desenvolver quadros de esteatose hepática gordurosa.
Em crianças nos primeiros anos de vida, a esteatose hepática é causada principalmente por algumas doenças metabólicas (causam alteração no funcionamento geral do organismo). Já nas crianças maiores e adolescentes, as causas são semelhantes às dos adultos. O tratamento na infância é de fundamental importância para prevenir danos irreversíveis nos adultos, além da conscientização da criança para hábitos de vida saudáveis.
Sintomas:
Nos quadros leves de esteatose hepática, a doença não provoca sintomas, estes são percebidos quando aparecem as complicações da doença. Inicialmente, as queixas são dor, cansaço, fraqueza, perda de apetite e aumento do fígado.
Nos estágios mais avançados de esteato-hepatite, caracterizados por inflamação e fibrose que resultam em insuficiência hepática, os sintomas mais frequentes são ascite (acúmulo anormal de líquido dentro do abdome), encefalopatia (doenças no encéfalo) e confusão mental, hemorragias, queda no número de plaquetas do sangue, icterícia (pele e olhos amarelados).
Diagnóstico:
Com frequência, nas fases iniciais, o diagnóstico da esteatose hepática gordurosa não alcoólica é feito por meio de exames de rotina, laboratoriais ou de imagem. Uma vez detectada a alteração, é indispensável estabelecer o diagnóstico diferencial com outras hepatites, ou doenças autoimunes e genéticas, ou pelo uso de drogas, uma vez que a enfermidade não apresenta um quadro clínico característico.
Surgindo a suspeita, porém, o importante é levantar a história do paciente, que deve passar por minucioso exame físico e submeter-se a exames de sangue para medir os níveis das enzimas hepáticas. Embora a ultrassonografia, a tomografia e a ressonância magnética sejam muito úteis para avaliar possíveis alterações no fígado, há casos em que a confirmação do diagnóstico depende de biopsia. Entre todos, porém, o exame mais importante para diagnóstico da enfermidade é a elastografia transitória, um método semelhante à ultrassonografia, indolor, que mede a elasticidade do tecido hepático e a quantidade de gordura acumulada no fígado.
Tratamento:
Não existe um tratamento específico para o fígado com excesso de gordura. Ele é determinado de acordo com as causas da doença, que tem cura, e baseia-se em três pilares: estilo de vida saudável, alimentação equilibrada e prática regular de exercícios físicos. São raros os casos em que se torna necessário introduzir medicação.
Prevenção:
Algumas medidas são indispensáveis para prevenir o acúmulo de gordura no fígado ou para reverter o quadro já instalado.
– esteja atento às medidas da circunferência abdominal, que não devem ultrapassar 88 cm nas mulheres e 102 cm nos homens;
– procure manter o peso dentro dos padrões ideais para sua altura e idade, mas cuidado! Dietas radicais, que provocam emagrecimento muito rápido, podem piorar o quadro;
– beba com moderação (bebidas alcoólicas) durante a semana e nos fins de semana também;
– restrinja o consumo dos carboidratos refinados e das gorduras saturadas. Substitua esses alimentos pelos integrais e por azeite de oliva, peixes, frutas e verduras.
IMPORTANTE: Somente médicos e cirurgiões-dentistas devidamente habilitados podem diagnosticar doenças, indicar tratamentos e receitar remédios. As informações disponíveis em Dicas em Saúde possuem apenas caráter educativo.
Dieta para esteatose hepática
Sobre alimentação e dietas, ainda não existe um consenso sobre qual a melhor conduta dietoterápica a ser adotada para esteatose. Nesse cenário, a terapia nutricional na deve considerar a etiologia (causa) da doença. Além disso, em condições ideais, a conduta nutricional deve ter como objetivos:
Promover redução de peso;
Redução de gordura intra-hepática;
Redução dos níveis glicemia e melhora da resposta à insulina;
Melhora do perfil lipídico (dislipidemia) e do estado inflamatório.
As principais estratégias dietoterápicas para combater a esteatose serão apresentadas a seguir:
Peso e esteatose hepática
Já foi comprovada a eficácia da combinação de dieta e atividade física em termos de promoção de perda de peso. A redução de peso pode se dar por diminuição do valor calórico da dieta e exercício físico. Embora a perda de peso rápida tenha sido associada com a diminuição da esteatose hepática, ela pode piorar os parâmetros de inflamação e fibrose. Portanto, ainda pode ser mais seguro optar por uma perda de peso em ritmo moderado.
Carboidratos e esteatose hepática
Além de cuidar para não exceder a quantidade diária de carboidratos, é importante cuidar o índice glicêmico deles. Estudos mostram que dietas com alta oferta de carboidratos de alto índice glicêmico promoveu elevação duas vezes maior nos níveis de triglicerídeos e adiposidade do que dieta com a mesma quantidade de carboidratos, mas de absorção lenta. Por isso é tão importante comer carboidratos de forma adequada e optar por carboidratos saudáveis.
Açúcares e esteatose hepática
Quanto à frutose, não foram encontrados dados confiáveis de que o consumo da mesma causaria esteatose hepática. No entanto, o excesso de alimentos industrializados e ricos em xaropes de frutose devem sim ser reduzidos e excesso de sucos de frutas devem ser evitados.
Um estudo com garotos adolescentes analisou o efeito da redução de açúcar a menos de 3% do valor calórico total também foi efetivo na redução da esteatose. Essa redução foi feita através de bebidas com adição de açúcar e sucos de frutas. A utilização de adoçantes artificiais também foi proibida durante a intervenção devido à controvérsia em curso a respeito de seu efeito sobre o peso corporal e a sensibilidade à insulina. Ao final do estudo, os pesquisadores perceberam melhora significativa da esteatose, considerando apenas essa modificação da dieta.
Fibras e esteatose hepática
Também é importante fazer uma dieta rica em fibras. As recomendações variam conforme as entidades de saúde, como: ADA, OMS, DRI. Mas, em média aconselha-se consumir em torno de 30 g de fibra ao dia, ou 14 g de fibra a cada 1000 Kcal. Para alcance de tais recomendações de fibras, é necessário fazer uma ingestão regular e diária de frutas, cereais integrais, verduras, legumes e leguminosas.
Consumir 14 g de fibra não é difícil, basta incluir no cardápio diário os seguintes alimentos: 1 fatia de mamão (150 g), 1 laranja (100 g), 1 fatia de pão de centeio (25 g), 1 colher de sopa de aveia em flocos (15 g), 2 colheres de sopa de arroz integral (40 g), 1 concha pequena de feijão (70 g) e 2 colheres de sopa de legumes (40 g), como vagem ou beterraba.
Gorduras e esteatose hepática
Sobre o consumo de gorduras, não há referências específicas para o consumo delas na esteatose. Sabe-se que uma dieta rica em gordura, especialmente saturada, a longo prazo, pode contribuir para o desenvolvimento de esteatose.
Entretanto, podem ser adotadas as recomendações para síndrome metabólica, já que os pacientes com esteatose, especialmente aqueles com esteato-hepatite, apresentam risco aumentado de desenvolver esse conjunto de anormalidades metabólicas.
Nesse caso, fica indicada a dieta mediterrânea, que preconiza o consumo de azeite de oliva, oleaginosas e carnes brancas e magras. Estudos mostram que após a realização da intervenção com a dieta estilo mediterrâneo os pacientes apresentaram significativa redução da esteatose hepática e melhora da sensibilidade à insulina.
Antioxidantes e esteatose hepática
Pacientes com NASH apresentam menores níveis de antioxidantes no soro, o que torna o fígado mais susceptível ao dano oxidativo. Por isso, a utilização da vitamina E como antioxidante pode retardar a progressão da esteatose para NASH. As maiores fontes de antioxidantes naturais estão presentes nas frutas e vegetais de forma geral.
Probióticos e esteatose hepática
Os probióticos, tais como pool composto por Streptococcus thermophilus e várias espécies de Lactobacilos e Bifidobactérias, têm sido utilizados para prevenir e tratar condições inflamatórias do trato gastrintestinal. Esses efeitos terapêuticos podem ser relacionados com uma variedade de mecanismos diretos e indiretos, incluindo a modificação de microbiota local, a função de barreira epitelial, inflamação intestinal, estresse oxidativo, ou o sistema imunitário.
Alguns autores sugerem que as alterações da microbiota intestinal induzem maior permeabilidade intestinal e liberação de substâncias inflamatórias no intestino, o que poderia ativar o sistema imunológico, enquanto os metabólitos produzidos microbianamente (ácidos graxos de cadeia curta, endotoxinas, N-óxido de trimetilamina, colina, ou etanol) podem regular o metabolismo dos ácidos biliares. Endotoxinas bacterianas podem passar da veia porta para o fígado, induzindo inflamação e resistência à insulina e promovendo o desenvolvimento de fígado gorduroso. Este processo, conhecido como endotoxemia, está presente em muitos pacientes com esteatose.
Fitoterápicos e esteatose hepática
Produtos naturais, incluindo gengibre, extrato de chá-verde, café, extrato de folhas e ervas chinesas têm sido propostos para prevenir ou atenuar a EHNA e sua progressão por meio de vários mecanismos. Tais mecanismos seriam: melhora da sensibilidade à insulina, ativação de receptores gama ativados por proliferador de peroxissomos (PPAR-gama), indução de adiponectinas e regulação de citocinas pró-inflamatórias, mudando o equilíbrio entre a adiponectina e fator de necrose tumoral alfa (TNF- alfa) em favor da adiponectina, efeitos antioxidantes e propriedades antidislipidêmicas.
Fontes de consulta:
Fontes:
Fructose Consumption, Lipogenesis, and Non-Alcoholic Fatty Liver Disease
Hepatic Steatosis and Type 2 Diabetes: Current and Future Treatment Considerations
Non-Alcoholic Fatty Liver Disease
Effect of a Low Free Sugar Diet vs Usual Diet on Nonalcoholic Fatty Liver Disease in Adolescent Boys: A Randomized Clinical Trial
Comments