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Neurociência e compulsão alimentar: entender os mecanismos por trás desse comportamento

Atualizado: 4 de jul. de 2024


Neurobiologia da Compulsão Alimentar:

O cérebro desempenha um papel fundamental na regulação do comportamento alimentar, envolvendo uma rede complexa de regiões e circuitos neurais.

O hipotálamo é uma área-chave, integrando sinais periféricos de fome e saciedade, como hormônios e nutrientes, e enviando respostas eferentes para regular a ingestão de alimentos.

Outras regiões, como o sistema límbico (incluindo a amígdala e o nucleus accumbens), estão envolvidas nos aspectos motivacionais, emocionais e de recompensa do comportamento alimentar.

Na compulsão alimentar, acredita-se que haja uma disfunção nessa rede de regulação, com hiperatividade de circuitos de recompensa e desregulação de sinais de fome e saciedade.


Recompensa e Prazer:

A liberação de neurotransmissores, como a dopamina e a serotonina, está intimamente ligada aos aspectos de prazer e recompensa do comportamento alimentar.

Alimentos altamente palatáveis e ricos em açúcar, gordura e sal podem desencadear uma ativação intensa do sistema de recompensa, levando a um estado de euforia e prazer.

Esse ciclo de recompensa pode reforçar e perpetuar o comportamento compulsivo de busca e consumo desses alimentos, mesmo na ausência de fome ou necessidade energética.

Alterações na função desses sistemas de recompensa podem contribuir para a manutenção da compulsão alimentar.


Regulação do Apetite:

Hormônios como a leptina e a grelina desempenham um papel fundamental na regulação do apetite e do balanço energético.

A leptina é um hormônio produzido pelo tecido adiposo que sinaliza saciedade e supressão do apetite no cérebro.

A grelina, por sua vez, é um hormônio produzido principalmente no estômago, que atua como um sinal de fome e estimula o apetite.

Em casos de compulsão alimentar, pode haver uma desregulação desses sistemas hormonais, com diminuição da sensibilidade à leptina e/ou aumento da responsividade à grelina, contribuindo para um desequilíbrio na regulação do apetite.


Fatores Psicológicos e Emocionais:

Estudos têm demonstrado que fatores psicológicos, como estresse, ansiedade e depressão, estão intimamente relacionados à compulsão alimentar.

O estresse ativa o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal, levando à liberação de hormônios como o cortisol. Esse aumento dos níveis de cortisol pode contribuir para o consumo compulsivo de alimentos, especialmente aqueles ricos em gordura e açúcar, como uma estratégia de enfrentamento.

A ansiedade e a depressão também estão associadas a alterações na atividade de neurotransmissores, como a serotonina e a dopamina, que desempenham um papel crucial na regulação do humor e do comportamento alimentar.

Essas condições psicológicas podem ativar regiões cerebrais relacionadas à recompensa, emoção e tomada de decisão, contribuindo para a perpetuação da compulsão alimentar como um meio de regular o estado emocional.


Vulnerabilidade Genética:

Estudos genéticos têm investigado a influência de fatores hereditários na predisposição à compulsão alimentar.

Alguns polimorfismos genéticos foram associados a um maior risco de desenvolver compulsão alimentar, afetando a expressão ou a função de genes relacionados a vias de recompensa, regulação do apetite e controle do comportamento.

Por exemplo, variações em genes que codificam receptores de dopamina e serotonina podem afetar a sensibilidade desses sistemas de neurotransmissores, influenciando a resposta a alimentos palatáveis e a propensão à compulsão alimentar.

Além disso, genes que regulam a sinalização de hormônios como a leptina e a grelina também podem contribuir para a vulnerabilidade genética à compulsão alimentar.


Plasticidade Cerebral e Hábitos Alimentares:

O cérebro é um órgão altamente plástico, capaz de se adaptar e modificar sua estrutura e função em resposta a experiências e aprendizagem.

No contexto da compulsão alimentar, a plasticidade cerebral pode levar à formação de hábitos alimentares compulsivos, com a criação de fortes associações entre determinados alimentos, recompensa e emoções.

Essas conexões neurais reforçadas podem perpetuar o comportamento compulsivo, mesmo na ausência de fome fisiológica.

Intervenções terapêuticas, como a terapia cognitivo-comportamental e a terapia de aceitação e compromisso, podem ajudar a modificar esses padrões neurais, enfraquecendo as associações entre alimentos, recompensa e compulsão, e promovendo a formação de novos hábitos saudáveis.



Tratamentos Baseados em Neurociência:

Diversas abordagens terapêuticas baseadas em neurociência têm sido investigadas e aplicadas no tratamento da compulsão alimentar:

Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): Essa abordagem visa modificar os padrões de pensamento e comportamento relacionados à compulsão alimentar. A TCC ajuda os pacientes a identificar e reestruturar crenças disfuncionais, desenvolvendo estratégias de enfrentamento para lidar com gatilhos e impulsos.

Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT): A ACT enfatiza a aceitação dos pensamentos e emoções relacionados à compulsão, ao invés de tentar suprimi-los. Isso pode ajudar os pacientes a desenvolver uma relação mais saudável com os impulsos alimentares.

Estimulação Cerebral Não Invasiva: Técnicas como a estimulação magnética transcraniana (TMS) e a estimulação elétrica transcraniana (tES) têm sido investigadas como formas de modular a atividade de regiões cerebrais associadas à compulsão alimentar, como o córtex pré-frontal. Essas abordagens podem ajudar a melhorar o controle inibitório e a tomada de decisões relacionadas à alimentação.


Impacto da Nutrição no Cérebro:

A alimentação desempenha um papel fundamental na saúde e função cerebral. Escolhas alimentares podem afetar diretamente a atividade e a estrutura do cérebro.

Uma dieta equilibrada, rica em nutrientes essenciais, como ácidos graxos ômega-3, vitaminas do complexo B, minerais e antioxidantes, pode contribuir para a melhora da função cognitiva, do humor e da regulação do apetite.

Alimentos altamente processados, ricos em gordura, açúcar e aditivos, podem ter um impacto negativo no cérebro, aumentando a inflamação, prejudicando a sinalização de recompensa e contribuindo para a desregulação da ingestão alimentar.


Portanto, uma dieta saudável e o consumo de alimentos nutritivos podem ser parte integrante de uma abordagem terapêutica para o manejo da compulsão alimentar, apoiando a saúde cerebral e a regulação do comportamento alimentar.


REFERÊNCIA

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Este artigo de revisão aborda as sobreposições neurobiológicas entre a obesidade e os transtornos por uso de substâncias, explorando os sistemas de recompensa, regulação do apetite e tomada de decisão no cérebro.

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Este estudo investiga as alterações nos sistemas de dopamina no cérebro associadas ao desenvolvimento da obesidade, fornecendo insights sobre os mecanismos neurobiológicos subjacentes.

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Essa revisão abrangente descreve a anatomia e o funcionamento do sistema de recompensa no cérebro, com relevância para a compreensão dos aspectos motivacionais do comportamento alimentar.

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O artigo analisa o papel dos sistemas de recompensa no cérebro na regulação do apetite e no desenvolvimento da obesidade, incluindo a discussão sobre compulsão alimentar.

Yau, Y. H., & Potenza, M. N. (2013). Stress and eating behaviors. Minerva endocrinologica, 38(3), 255.

Este artigo discute a influência do estresse sobre os sistemas neurobiológicos relacionados à regulação do apetite e ao comportamento alimentar compulsivo.

Gearhardt, A. N., Corbin, W. R., & Brownell, K. D. (2009). Food addiction: an examination of the diagnostic criteria for dependence. Journal of addiction medicine, 3(1), 1.

O estudo investiga a aplicabilidade dos critérios de dependência de substâncias aos comportamentos alimentares compulsivos, com base em evidências neurobiológicas.





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